Visitando a minha terra


Fui rever o meu sertão
O lugar que fui nascido
Achei muito diferente
Porém não tinha esquecido
Chorei em ver o lugar
Um dia quero morar
Naquele sertão querido

Não encontrei os meus pais
Morando onde deixei
Se mudaram pra cidade
O qual o motivo eu sei
Pôr se encontrarem sozinhos
Pois foram poucos os vizinhos
Que pôr ali encontrei

Quase tudo abandonado
Esqueceram a agricultura
Não se planta mais a cana
Pra fazer a rapadura
O cata-vento quebrado
Que puxava água pro gado
Só restou a estrutura

A casa onde nasci
Nunca mais lhe entrou gente
Não é mais aquela casa
Do tempo de antigamente
Eu tinha felicidade
Hoje só resta a saudade
Morando na minha mente

A calçada esburacada
O mato cobrindo a porta
O curral sem a porteira
A cerca caída e torta
No peito deu uma dor
Quando vi o regador
Que eu aguava a horta

O pé de siriguela
Que enfeitava o terreiro
Fez lembrar a minha infância
Voltei no tempo ligeiro
Onde em seus galhos brincava
Com meus irmãos apostava
Quem desceria primeiro

Não tem mais as assafroas
Que fazia coloral
A mangueira grande caiu
Por causa de um temporal
A graviola morreu
E ninguém apareceu
Naquela zona rural

Senti falta do cachorro
Que vigiava o roçado
Apartava briga de bois
Eu sempre tava ao seu lado
Separava um a um
Preto igual a um anum
Ligeiro e muito ensinado



Entrei na casa aos pouquinho
A mente ficou confusa
Ainda tinha algumas coisa
Que na cidade não usa
A cangalha e o caçuá
Foice, picareta e pá
Com telha de aranha inclusa

O quibando remendado
Que mãe soprava cherem
O pilão de pisar milho
Que em toda casa tem
Uma mesa de aroeira
Uma velha ratoeira
E ratos pra mais de cem

A mesa e o oratório
Que mãe fazia oração
O meu nome na parede
Anotado com carvão
O tempo não apagou
Nem da memória tirou
As lembranças do sertão

A espingarda bate-bucha
Que eu caçava preá
A baleadeira quebrada
Também ainda estava lá
O arado enferrujado
Pelo tempo desprezado
Que eu ajudava a guiá

A bufuta e os fusos
Que tontonha fazia cordão
Um jogo de ancoretas
Sem as cordas e sem tampão
Um velho chapéu de couro
Uma careta de touro
Junto ao cilo de feijão

Vi a chaleira de flandre
Que papai fazia café
Pôr cima do pitisqueiro
Tinha uma lata de rapé
Uma peça da desnatadeira
Lembro que foi a primeira
Que chegou no catolé

A lamparina vazia
Com o pavio enegrecido
O pote d'água virado
Um tamborete partido
Se eu lembrasse que a lembrança
Faz chorar como criança
Ali eu não tinha ido

Fechei a porta da casa
E me sentei no batente
Botei a culpa na seca
Pôr ali não Ter mais gente
O lugar que fui criado
Hoje está abandonado
Mas não sai da minha mente