Versos alimeirados

Por Jorge Filó

Mote: EU QUERENDO TAMBÉM FAÇO
IGUALZINHO A ZÉ LIMEIRA.

Eu vi um peba voando
Escanchado num jumento
Vinte saco de cimento
Vêi na ladeira bolando
Um cego de longe olhando
Desceu também na carreira
Quase no fim da ladeira
Um doido quebrou o braço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira

Uma lapada de cana
Dois quilo de rapadura
Uma goiaba madura
Pra passa uma semana
Quem pensar que me engana
Vai comer muita poeira
Cangape, coice e rasteira
Você não passa e eu passo
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira

Numa quartinha de barro
Guardei um saco de vela
Um burro vendeu a sela
Venta, catota e catarro
São lá vai comprou um carro
Vou fazer uma besteira
Botei fogo na fogueira
Que sapecou o espaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Fui um dia pra Belém
Em cima dum cata-vento
Dei um coice num jumento
Que derrubou mais de cem
Se tu for, um dia vem
Vai me dar uma caganeira
Hoje eu num faço feira
Mas chupo “inte” o bagaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

No ano de trinta e seis
Morreu um pé de jurema
Eu vou no canto da ema
Passar quatro ou cinco mês
E quem disser a vocês
Que tripa e bucho é besteira
Ta me dando uma zonzeira
Na ponta do espinhaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Num dia de chuva fina
Me sentei numa calçada
Tinha uma velha deitada
No tempo que era menina
Um furacão lá na china
Passou fazendo poeira
Quando foi na sexta-feira
Eu me deitei no terraço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Deu cinco horas da tarde
No pino do meio-dia
Jesus filho de Maria
Quem quiser que se acovarde
Já tão fazendo um alarde
Em toda “fulô” que cheira
Pai e mãe na bagaceira
Finda caindo no laço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Na casa que mora gente
Não tem porta nem janela
A mãe do pai é aquela
Que perdeu tudo que é dente
Quem já foi, hoje é ausente
Quem não quiser que não queira
Vai ser uma bebedeira
Pra ficar só o cangaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Numa banda de tijolo
Com meia lata de areia
Uma mulher muito feia
Um menino sem consolo
Um bebo comendo bolo
Nem metade, nem inteira
“tava” furada a leiteira
Mais foi pequeno o inchaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Cuscuz com bode guisado
Num roçado de farinha
Eu tenho uma coisa minha
Tá com goteira o telhado
Ladrão é cabra safado
Chupei imbu na mangueira
“passarim” é lavandeira
Um risco é igual um traço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

São Tomé lá na igreja
Disse eu não acredito
Valei-me são benedito
Que começou a peleja
Cachaça é bom com cerveja
E qué vê bom de primeira
É eu na tripa gaiteira
Da filha de João Inaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Um velho mudo gritava
De longe um cego via
Um aleijado corria
O “môco” tudo escutava
Menino novo falava
Nasceu o “fí” da parteira
Metade nunca é inteira
O juiz fez um “golaço”
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Pernambuco é a cidade
Do estado de João pessoa
Todo “pade” vive atoa
Nessa tal modernidade
Só minto quando é verdade
Lá no sítio gameleira
Uma cabocla faceira
Ganhou na queda de braço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Na semana que eu morri
Caiu uma tromba d’agua
Só é feliz quem tem magoa
Foi tão sem graça que eu ri
Depois de morrer nasci
Com uma doida faceira
Todo peido novo cheira
Se não for logo um cagaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Parado num atoleiro
Um caminhão de batata
Nem a policia me empata
Fim de dezembro é janeiro
Lampião foi cangaceiro
No tempo que era parteira
Partido de bananeira
Rasteja sem embaraço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Cachorro doido é quem baba
Mulher buchuda é parida
Quem já “ta” morto na vida
Tudo que é muito se acaba
O jumento é quem “enraba”
A novilha da leiteira
Lá na serra do teixeira
Tem um pinico de aço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Num toco de amarra jegue
Pedro alvares Cabral
Lasco-se no carnaval
Sua mãe deu-lhe um esbregue
O diabo que o carregue
Já falou zé quixabeira
Quem gosta de brincadeira
Quando é pra caça eu caço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Depois da linha do mar
Ficou triste o vagabundo
Só é feliz neste mundo
Quem aprendeu a andar
No dia que eu for votar
Tomo um chá de quixabeira
Zé caiu da goiabeira
Mas ficou o “limeiraço”
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Um dia eu “tava” cantando
Minha viola quebrou-se
O burro preto danou-se
Passou um velho bufando
Menino novo chorando
Porca nova com coceira
Uma velha budegueira
Peguei um peba no laço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Um boi de carro cansado
Corria atrás da novilha
A luz do sol é de pilha
Valei-me que’u fui roubado
Tinha um preá atolado
Escanchado na porteira
Uma mulher cachaceira
Caldo de cana é melaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira

Pilão de pedra, inchada
Caroço de mulungu,
Um prato cheio de angu,
Debaixo de uma latada,
Tudo isso não é nada
E quem for pra ingazeira
Vai comer muita poeira
Se não morrer do mormaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Foi num dia de domingo
Que a besta de pai pariu
“dero” um tiro de fuzil
Que matou oitenta gringo
Maria ganhou num bingo
Quase um cento de peneira
Num dia de quarta-feira
Eu vou mandar um abraço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Quem foi primeiro lugar
Teve que comer xerem
Aqui não manda ninguém
Acendeu tem que apagar
Bem na hora de jogar
Pegaram logo a peixeira
Caminhão só com lameira
E não de mais nenhum passo
Eu querendo também faço
Igualzinho zé limeira

Foi na semana passada
Comi uma melancia
Quase no final do dia
Caiu uma manga inchada
La debaixo da latada
Dei um croque na moleira
Gente que fala besteira
Só serve de embaraço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

No quinto ano seguido
O atraso foi chegando
Vinha menino fumando
Pipoco de estampido
Um preá deu um latido
Derrubou a sementeira
No ano que é quinta-feira
“véi” num amarra o “cadaço”
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Pra falar pilogamia
Na transecência verbótica
Trilogicando a elótica
Dessa tal modernomia
Conclusivista antemia
Da inconumbente asneira
Estanislando a noneira
Do perflectismo intrasso
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Androponema inconobis
Dentro da mesocridade
Antes mesmo do linfade
Veio a arte dos linfobis
Triste como os adinobis
Inconocivel daneira
Repartidamente inteira
Pelo próprio megalasso
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Atritando a concumbência
De todas as qualidades
A introgeição dos fades
Incloneia a inteligência
Ante da maledicência
Que invade a cabrueira
A tranzistancia altaneira
Eleva o nosso agrenaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Desorbitando engrenagens
Da imensidão guenóbia
Tem perante a ednóbia
Contendo mais três imagens
Reproduzindo as clonagens
Da deportação mineira
Ade est domini leira
Como diz o grego andraço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Usurpando a hemoglobina
Dos atritos antenais
Vejo as trilhas colossais
Que desorbita e fascina
Girando através do bina
Depois de tanta canseira
O astro da goiabeira
Faz clarear o espaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Construi uma falésia
No monte cadaquistão
Para morar no sertão
Bem perto da indonésia
Intransigente amnésia
Da conturbação da eira
Que estando de bobeira
Entra no mundo de anaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Climatizando a artéria
Da sanguinidade odesa
O estrulabio que pesa
Na consciente matéria
Tendo a alma deletéria
Merece ate fucinheira
Senta o rabo na cadeira
Pra descansar o calaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a zé limeira.

Jorge Filó