Desafio entre cantadores: Um mente, o outro desmente.

Cantador A
O dinheiro mim faz bem
é minha felicidade
compro até uma cidade
ainda sobra algum vintém
mais do que eu ninguém tem
compro gente e animais
aviões e catedrais
sou conhecido mundialmente
o que faço no repente
poeta nenhum desfaz

Cantador B
Você nunca teve dinheiro
e é pobre de esmola
sua mala é uma sacola
sua casa é um juazeiro
não se sabe no estrangeiro
se você é um a mais
não tem crédito nem cartaz
é apenas um indigente
vá construindo na frente
que eu vou desmanchando atrás

Cantador A
Não posso sair na rua
com as mulheres me beijando
me puxando me agarrando
me mostrando a pele nua
vou ter que morar na lua
que é pra ver se fico em paz
sou bonito até de mais
fui feito perfeitamente
o que faço no repente
poeta nenhum desfaz

Cantador B
No dia que tu nasceu
teu pai se suicidou
da coisa que tua mãe obrou
o céu todo escureceu
a terra toda tremeu
não tinha frente nem trás
parecia o satanás
não parecia com gente
vá construindo na frente
que eu vou desmanchando atrás

Cantador A
Sou doutor em poesia
canto o campo e a cidade
a velhice e a mocidade
sou filho da maresia
não tenho mente fazia
não ando com marginais
não invejo quem tem mais
pois tenho o suficiente
o que faço no repente
poeta nenhum desfaz

Cantador B
Você é um invejoso
também não sabe cantar
fica aí a me imitar
isto me deixa nervoso
é um grande ambicioso
fugitivo de Alcatraz
coisa boa tu não faz
porque tu nasceu sem mente
vá construindo na frente
que eu vou desmanchando atrás

Cantador A
Eu conheço o mundo inteiro
sei falar dez indioma
não nasci pra ser cafona
e no verso sou ligeiro
cantador bisbilhoteiro
não me imitará já mais
pois nos cantos que tu vais
eu não passo nem em frente
o que faço no repente
poeta nenhum desfaz

Cantador B
Tu nasceu no catolé
município de Coremas
quem já leu os teus poemas
sabe bem o que você é
foi criado em um chalé
lá dentro dos matagais
nos versos que você faz
se parece inteligente
vá construindo na frente
que eu vou desmanchando atrás